Cais de Mercadorias da REFER
Numa altura em que o desenvolvimento económico do país passara a depender também do modo como as mais recônditas localidades se integravam na rede de ligações que se ia tecendo ao longo do território, o caminho-de-ferro, tal como nos demais países europeus da época, assumiu um papel absolutamente preponderante. Foi neste enquadramento que se procedeu à construção da estação de caminho-de-ferro e do armazém de Peso da Régua no último quartel do século dezanove. Oficialmente inaugurada com a chegada do primeiro comboio, a 14 Julho de 1879, a estação ocupou rapidamente um lugar central no quotidiano das populações desta região através da ligação que estabelecia entre as províncias de Trás-os-Montes e da Beira Alta, contribuindo sobremodo para o acréscimo da circulação, não apenas de pessoas, como dos produtos cultivados nos seus terrenos, com especial destaque para os vinícolas.
Edificada numa zona ribeirinha do centro vinícola do Baixo Corgo, na confluência do Douro, numa área ainda escassamente povoada no final de oitocentos, a "Estação Ferroviária de Peso da Régua" apresenta diversas estruturas que a integram na totalidade. Assim, e à semelhança do que sucede noutras construções congéneres, é no primeiro dos dois pisos do corpo central deste edifício principal que funcionam as bilheteiras, as salas de espera e o gabinete do chefe da estação, bem como um pequeno café instalado num dos espaços interiores entretanto adaptado para o efeito já no século XX. Para além de um amplo alpendre apoiado em travejamento de madeira no alçado voltado para a gare, o exterior deste edifício revela uma base granítica encimada por um friso de azulejos policromos, arestas definidas em pilastras e o registo superior delimitado por cornija. No conjunto, estes elementos parecem evocar uma estética de feição neoclássica ainda dominante à época da sua construção, tal como, na generalidade, sucede nos alçados exteriores das instalações sanitárias localizadas num segundo edifício, bem como numa terceira edificação de planta retangular erguida a Oeste, utilizada como alojamento de funcionários da estação e funcionamento dos diversos serviços administrativos aí existentes.
Apesar da importância de todo o complexo arquitetónico, uma das suas mais relevantes particularidades formais residirá na configuração do cais. Com efeito, e contrariamente ao que poderá ser observado na maioria dos exemplares pertencentes a esta tipologia patrimonial, o cais apresenta-se em forma de curvatura. Tal como, aliás, o próprio armazém, com duzentos metros de comprimento por sessenta de largura, concebido em madeira num único volume alicerçado numa base com menos de um metro de altura, e cujas fachadas exibem um ritmado ripado que as cobre até uma altura de, aproximadamente, três metros. Projetado como nó vital de circulação, por excelência, dos bens produzidos e comercializados nesta vasta faixa do território português, o armazém foi estruturalmente adaptado a esta finalidade, razão pela qual o alçado Norte confina diretamente com uma das linhas de caminho-de-ferro, para a qual se abrem vinte e duas portas (bem como para a rua), a fim de facilitar um carregamento mais célere e direto dos produtos transportados nas composições ferroviárias e nos veículos que os faziam chegar até ao armazém pelo caminho que o delimita do lado exterior.
[AMartins]
Rua José Vasques Osório, Peso da Régua
Localização GPS: 41.157806, -7.783294