Clube de Leitura reflete sobre “os Romeus e as Julietas do Séc. XXI”
No dia 28 do mês passado realizou-se mais uma sessão do Clube de Leitura “Café com Livros”. Sendo fevereiro o mês de S. Valentim, pareceu adequada a celebração de Romeu e Julieta. Não o original clássico de Shakespeare, mas uma hodierna e cínica versão de Gonçalo M. Tavares, onde encontramos entre as suas Histórias Falsas “A história de Julieta, a santa da Baviera”. Julieta era bela e embevecida; Romeu, duque e um predador entediado.
Este enredo animou o nosso serão. No fundo o que estava em causa era a insatisfação das mulheres perante o facto de darem mais do que os homens conseguem dar. Houve, igualmente, quem encontrasse aqui uma metáfora para o confronto de dois ingredientes: o medo e o poder, que se poderá traduzir em insegurança, na pressa. É o medo de amar que deixa os homens mais frágeis. As mulheres são mais fortes, pelo poder da sua beleza. As mulheres belas causam insegurança aos homens.
Este pode ser o retrato do homem moderno. Pode ser, também, o retrato de uma sociedade anglo-saxónica bem diferente das sociedades mediterrânicas. Seja como for, parece que este Romeu é um homem mal resolvido. As mulheres gostam de ser conquistadas. Há aqui dois tipos de amor. Romeu ama de uma outra forma, não eterna, mas intensa (enquanto dura).
Houve quem considerasse serem os homens vítimas de mulheres assertivas. Até bem vistas as coisas, o homem é hoje, mais do que a mulher, um objecto (de ostentação). Contudo, não se pode generalizar; atenda-se à questão da violência doméstica.
Este Romeu e Julieta retratam o poder inerente a uma relação interpessoal. Qualquer relação entre pessoas é uma relação de poder. Romeu apresenta-se como homem atormentado (porque está permanentemente insatisfeito), intranquilo. Sendo um homem com medo, ele é incapaz de fixação.
Acompanhando a sessão à distância, houve quem afirmasse que “sermos nós próprios é um grande desafio”.
Será que estamos perante um novo paradigma do amor, um arquétipo onde impera o narcisismo, onde cada vez mais se comunica menos, onde se perde a noção de convívio e de partilha?
Poderá a libertação das mulheres ter contribuído para a ausência do espírito de sacrifício e de partilha? Ou será que os papéis das mulheres são os mesmos, mas acrescidos de outros tantos? O papel da maternidade faz da mulher um ser cuidador. No entanto, tem-se assistido nas últimas décadas a uma grande transformação sociológica, quer dos homens, ao nível da instituição “família”, quer das mulheres, ao nível profissional.
O certo é que Julieta foi louca em se entregar ao amor, mas a loucura não é necessariamente uma coisa má. Os homens tendem a manter-se na adolescência. Não será que as mulheres são as grandes machistas ao criarem homens dependentes? (o que nos levou a inquirir sobre o papel da educação e da sociedade na sexualidade).
Entre [estes nossos] Romeu e Julieta, o menos livre é o Romeu, porque não sabe o que quer, é um eterno insatisfeito que nem a si próprio se encontrou. O que haverá de mais trágico que a insatisfação?