Requalificar a Linha do Douro é um “desígnio nacional”
No passado sábado, 15 de setembro, realizou-se no Auditório Municipal do Peso da Régua o Grande Debate de Douro sobre “A Linha do Douro, um futuro que tarda”, que contou com a presença de mais de uma centena de convidados, cidadãos e autarcas interessados em discutir o cenário de reabertura da ligação transfronteiriça via Barca d’Alva.
A sessão, conduzida pelo jornalista Carlos Cipriano, contou com a presença dos técnicos especialistas de vias de comunicação, Alberto Aroso, André Pires, Manuel Tão e com os deputados Ascenso Simões e Luís Ramos. O Secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme d’Oliveira Martins, que inicialmente aceitou o convite para encerrar o debate, juntamente com o presidente da CIM Douro, acabou por não estar presente por motivos inadiáveis e de força maior.
O Presidente da Câmara Municipal do Peso da Régua, José Manuel Gonçalves, referiu-se a este projeto como de “interesse nacional”, o que “foi provado do ponto de vista técnico” durante o debate e que “traz valor acrescentado à região”. Perante as afirmações do deputado socialista eleito por Vila Real, Ascenso Simões, que referiu que a prioridade é o IC26 e não a ferrovia, o autarca reguense argumentou que são investimentos em planos diferentes. José Manuel Gonçalves reivindicou que a reabertura da Linha do Douro deve ser um projeto de ambição nacional.
Carlos Santiago, presidente da CIM Douro, encerrou o debate apelando ao estado português para que encare este projeto “como um desígnio nacional” que o autarca considera “vital para o sucesso desta região do norte e um impulso indispensável ao seu desenvolvimento e ao seu futuro”. Para Carlos Santiago agora é “a vez do Douro”.
Debate técnico apontou para a necessidade eminente de reabertura da linha
Num painel técnico com diferentes perspetivas sobre o fenómeno ferroviário e sobre a linha do Douro, analisou-se o cenário de reabertura e os casos de sucesso na Europa.
Alberto Aroso destacou o potencial da linha para o turismo e para as cadeias logísticas, realçando a redução da extensão do percurso entre o Porto de Leixões e Espanha. O especialista de vias de comunicação referiu-se ainda aos impactos ambientais que serão reduzidos pelo facto do canal já existir.
André Pires, investigador que se tem debruçado sobre a ferrovia regional, apresentou diversos casos de sucesso, em que a reabertura de ligações transfronteiriças na Europa tem tido retornos económicos muito relevantes.
Ascenso Simões, numa intervenção em que pouco abordou o tema do debate, acabou por afirmar que “a prioridade do partido socialista em Vila Real é o IC26 e não a ferrovia” e só depois “a eletrificação entre o Marco e o Pinhão”.
Luís Ramos classificou a discussão “como de grande coragem”, referindo que “tecnicamente não há razão nenhuma para que a linha do Douro não seja recuperada”, estimando “o custo da reabilitação em 473 M€, o que dá para pagar 2 a 4 estações do metro de Lisboa”. O deputado e professor universitário na área do planeamento e transportes referiu “nenhuma solução que beneficie o norte e o Porto de Leixões pode ser feita sem colocar o Douro na equação”.
A discussão terminou com a intervenção do professor Manuel Tão, da Universidade do Algarve que, partindo das afirmações do administrador da MEDWAY, referiu que “o ideal é a linha do Douro e que não são necessárias miragens como Aveiro/Mangualde ou Aveiro/Salamanca que já foram chumbadas duas vezes na Comissão Europeia”. Socorrendo-se de uma imagem atual da ponte Internacional do Águeda, em Barca d’Alva, Manuel Tão perguntou se este é um cenário “compaginável com uma Europa sem fronteiras e com a livre circulações de pessoas, serviços, bens e mercadorias”.
No evento estiveram ainda representados todos os partidos políticos com assento parlamentar, quer através das estruturas regionais, quer nacionais, bem como diversas entidades, autarcas portugueses e espanhóis.
Num evento que contou com a organização conjunta da Associação Vale d’Ouro e da Câmara Municipal do Peso da Régua, Luís Almeida, Presidente da Direção da Associação Vale d’Ouro, fez um balanço positivo: “quisemos pôr a região a discutir estes números e estes dados”. Acrescentou que “ficou claro que ainda há muito a dizer sobre a Linha do Douro e que há muitas pessoas e entidades a querer contribuir”.
No final, os vários autarcas presentes advogaram que esta discussão irá continuar e disponibilizaram-se a, curto prazo, continuar a promover iniciativas semelhantes.